O Guia de Compras de Fim de Ano do *Privacidade não incluída revela o retrocesso de empresas em recursos de privacidade e segurança; brinquedos e gadgets infantis conectados são os mais malcriados

A Amazon e a Microsoft se destacam pelos piores motivos este ano, após concordarem em pagar um total de US$ 45 milhões para encerrar processos da FTC sobre supostas violações de privacidade


(SÃO FRANCISCO, CA | 15 DE NOVEMBRO DE 2023) — Eles observam você dormindo, eles sabem quando você está acordado: os gadgets conectados mais desejados do momento estão dando uma mãozinha para os elfos do Papai Noel em vigilância, coletando e compartilhando cada vez mais dados pessoais – e mais íntimos – do que nunca.

Segundo o Guia de Compras de Fim de Ano 2023 do *Privacidade não incluída da Mozilla, os brinquedos e apps conectados para os pequenos – que coletam e reutilizam montes de dados – estão no topo da lista de mau comportamento. Produtos que usam Alexa da Amazon, por exemplo, se meteram em problemas em 2023 por manterem e usarem gravações de voz de crianças por anos. E tem mais: o robô Moxie com IA, uma invenção meio Black Mirror da Embodied Inc., compartilha tudo o que “conversa” com as crianças com o Google e a OpenAI, criadora do ChatGPT.

As políticas de privacidade das empresas também estão se tornando mais obscuras e desonestas. A política de privacidade da Embodied Inc. aconselha os pais a instruírem os filhos a não compartilharem informações pessoais com o Moxie. Ao mesmo tempo, o marketing do produto incentiva as crianças a desenvolverem habilidades emocionais e de autoconfiança, conversando com o robô. Outras empresas estão apostando em smartwatches para crianças novas demais para terem um celular – e nosso pesquisadores encontraram inúmeras preocupações com a privacidade nesses dispositivos. Um exemplo é o Angel Watch para crianças, que rastreia dados íntimos como localização, áudio, vídeo, chamadas de celulares e sinais vitais do corpo, e nem parece ter uma política de privacidade para o relógio ou o aplicativo, tornando-se um dos produtos mais assustadores já avaliados pelo *PNI.

Enquanto isso, muitas empresas que os pesquisadores da Mozilla anteriormente classificaram positivamente, como Sonos, Eufy e Bose, este ano receberam selo de alerta de privacidade. Outras que já possuíam selo de alerta, como Amazon, Samsung, Wyze e Microsoft Xbox, apresentaram piora em coleta, uso, compartilhamento e segurança de dados. A Wyze teve problemas sérios de segurança e demorou a responder, e a Bose cogita vender dados sobre os movimentos de cabeça que os usuários fazem ao usar seus fones de ouvido. As acusações e multas da FTC contra Amazon e Microsoft confirmaram as preocupações dos pesquisadores sobre violações de privacidade desses produtos, especialmente no uso por crianças.


A edição de 2023 do guia de fim de ano do *Privacidade não incluída traz a análise de mais de 150 produtos tecnológicos populares em seis categorias, como Casa Inteligente, Brinquedos e Jogos e Dispositivos Vestíveis. Entre eles estão o Microsoft Xbox, Sonos, monitores de atividade física Garmin, Apple Watches, Fitbit, bicicletas Peloton, Amazon Ring, aspiradores de pó iRobot, monitores Tile, fones de ouvido Bose e o Tamagotchi Uni. Os pesquisadores da Mozilla mergulham fundo, dedicando cerca de oito horas a cada produto para investigar histórico das empresas, analisar políticas de privacidade e documentos regulatórios, e contatar cada empresa para esclarecimentos.

O guia deste ano destaca as multas aplicadas pela FTC à Microsoft e Amazon por supostas infrações na legislação de privacidade on-line para crianças. A Microsoft terá que desembolsar US$ 20 milhões por alegações de coletar e armazenar dados pessoais de menores inscritos no sistema de jogos Xbox sem o conhecimento ou consentimento dos pais. Já a Amazon pagará uma multa de US$ 25 milhões por manter informações sensíveis coletadas de crianças por meio de gravações de voz na Alexa durante anos. A empresa é acusada de ignorar pedidos dos pais para deletar esses dados e, em alguns casos, de usá-los para aprimorar seus algoritmos.

Jen Caltrider, pesquisadora-chefe do *Privacidade não incluída, alerta: “A privacidade e a segurança nos apps e gadgets que adoramos estão em queda livre, e isso é ainda mais crítico nos produtos para crianças. As empresas que se saem bem em privacidade conseguem isso simplesmente não coletando dados. Alexa, você ouviu isso?”.

O *Privacidade não incluída é um guia de compras focado em privacidade, não em preço ou desempenho. Lançado em 2017, o guia já avaliou centenas de produtos e aplicativos. Ele fornece aos consumidores as informações necessárias para escolherem presentes que resguardem a privacidade de quem amam, incentivando, ao mesmo tempo, que a indústria de tecnologia tome atitudes mais firmes para proteger o usuário.

Com tantos produtos conectados no mercado, fica difícil para o consumidor separar o joio do trigo em termos de tratamento de dados pessoais.

Jen conclui: “No fim das contas, se você quer dar presentes que protejam e respeitem a privacidade dos seus entes queridos neste Natal, talvez seja melhor optar pelo bom e velho livro”.

A privacidade e a segurança nos apps e gadgets que adoramos estão em queda livre, e isso é ainda mais crítico nos produtos para crianças… Se você quer dar presentes que protejam e respeitem a privacidade dos seus entes queridos neste Natal, talvez seja melhor optar pelo bom e velho livro.

Jen Caltrider, Mozilla

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Outras constatações do relatório deste ano:

Os órgãos reguladores estão se mobilizando para proteger os consumidores. Agora, a FTC está mais ágil em responsabilizar empresas por falhas graves em privacidade e segurança. Amazon, Amazon Ring, Xbox da Microsoft e o aplicativo de saúde mental BetterHelp enfrentaram críticas e foram responsabilizados pela agência.

Os avanços tecnológicos resultam em ainda mais coleta e compartilhamento de dados. O aplicativo de casa inteligente da Wyze pede permissão para ler suas mensagens. Os fones de ouvido da Bose podem rastrear movimentos de cabeça e talvez consigam vender esses dados. A maioria dos dispositivos de exercícios em casa coleta dados detalhados de atividades, mas o Lululemon Studio vai além, captando até gravações de áudio e vídeo dos seus treinos.

Inteligência Artificial em alta. Brinquedos infantis com chatbots de IA estão ganhando cada vez mais espaço. E mais: presentes de várias categorias estão apostando em IA, coletando e compartilhando dados para treinar esses programas. Um exemplo é o robô Moxie, da Embodied Inc., que só funciona se os pais aceitarem a coleta de dados. Conforme a política de privacidade, “os pais também podem revogar o consentimento dado a Embodied para coletar dados do filho por meio do Moxie no app dos pais, mas isso fará com que o Moxie deixe de funcionar”.

alguns produtos dignos de confiança por aí. Alguns bons produtos ficaram ainda melhores. Após o *Privacidade não incluída alertar a Garmin (aquela dos smartwatches e GPS) no ano passado de que ela não havia garantido o mesmo direito de excluir dados a todos os usuários, a empresa mudou sua política de privacidade para declarar claramente que todos os usuários, não importa sob quais leis de privacidade vivam, têm os mesmos direitos de exclusão de dados. O pet virtual Tamagotchi Uni ganhou pontos por coletar pouquíssimas informações pessoais, a melhor forma de garantir a privacidade.


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